Notícia: Nova era na prevenção de trombose

- Nova era na prevenção de trombose.20/06/2012
A cada 37 segundos, uma pessoa morre no mundo devido a complicações do tromboembolismo venoso, um mal silencioso e de difícil diagnóstico. Uma substância surge com a proposta de reduzir o problema.
Belo Horizonte — Terceira doença cardiovascular mais frequente no mundo, depois da isquemia do coração e do acidente vascular cerebral (AVC), o tromboembolismo venoso (TEV) mata 1 milhão de pessoas todos os anos no Estados Unidos e na Europa. Caracteriza-se pela obstrução das veias profundas por um trombo (coágulo de sangue), mais frequentemente na perna ou na coxa do paciente, podendo evoluir para a embolia pulmonar, quando um pedaço do trombo ou mesmo o trombo inteiro (êmbolo) se solta e chega ao pulmão, bloqueando um ou mais vasos e afetando a circulação, podendo causar danos aos pulmões e a outros órgãos vitais e até morte súbita.

O trombo se forma quando a fibrina, uma proteína do organismo, constrói uma rede e retém hemácias, plaquetas e leucócitos. Trata-se de um exagero na coagulação do sangue, que deveria se limitar a fechar lesões que possam ocorrer na parede do vaso sanguíneo. Diminuição do fluxo sanguíneo (frequente em pessoas com varizes acentuadas) e hipercoagulabilidade (percebida em pessoas com doença genética, em usuários de drogas e em grávidas) aumentam as chances de desenvolver o TEV. Outros fatores de risco são idade, obesidade e tabagismo. As situações mais comuns para gerar um tromboembolismo são a mobilidade reduzida por longo período, voos com mais de oito horas de duração, cirurgias ortopédicas, câncer e quimioterapia, anestesia geral, doenças cardiovasculares e insuficiência venosa. 

As tromboses das veias do membro superior também ocorrem com alguma frequência e são desencadeadas principalmente por injeções e por catéteres colocados nos braços de pacientes hospitalizados. No Brasil, a prevalência de TEV é de uma a duas pessoas para cada mil. No mundo, o problema mata 850 mil pessoas por ano, uma a cada 37 segundos. O tratamento mais comum é feito pela varfarina, descoberta há 50 anos. Aprovada no Brasil, para uso nas cirurgias ortopédicas de grande porte, a rivaroxabana surge como inovação do procedimento. Segundo estudos, ela reduz o risco de tromboembolismo venoso total em 70% dos casos de cirurgia de artroplastia total de quadril e em 50% na de joelho.  

Comum em parto

As consequências para a formação do trombo, assintomático em 80% dos casos, são a dissolução pelo próprio organismo por meio do sistema fibrinolítico, que é uma espécie de limpador dos vasos; a obstrução causando a síndrome pós-flebítica e a embolização, que mata em 30% dos casos. O TEV causa mais mortes que o câncer de mama e a Aids, e é a razão de óbito mais comum durante o parto e o puerpério. 

Por conta das dificuldades em diagnosticá-la, o ideal é o médico solicitar a realização de exames específicos, como o doppler, e levar em consideração a avaliação clínica e os fatores de risco. O uso de métodos mecânicos, como meia elástica, compressão pneumática intermitente e bombas de impulsão venosa, auxilia na prevenção. 

Os principais sintomas da trombose venosa profunda são dor e inchaço, que podem surgir juntos. A dor, em geral, começa sem causa aparente nos músculos da panturrilha e se intensifica com a movimentação. Pode aparecer em todo o membro inferior, acompanhando o edema, tendo início só na perna e no pé, em todo o membro ou subindo a perna e atingindo a coxa. Edemas em um só membro e com início agudo têm grande chance de serem provocados pela trombose venosa. Às vezes, existe alteração de cor no membro, que pode ser uma discreta vermelhidão ou um arroxeamento.

TRATAMENTO ATUAL 

Em 70% dos pacientes com trombose venosa profunda, ela se desenvolve como complicação de uma operação cirúrgica, repouso, parto ou gravidez e trauma, sendo as cirurgias de joelho e de quadril as mais propensas ao surgimento de TEV, aumentando as possibilidades em 20 vezes. Os doentes colocados nessas circunstâncias têm diminuição do fluxo de sangue nas veias e alteração do sistema hemostático. Por isso, medidas profiláticas devem ser tomadas em pacientes com maior risco de trombose venosa profunda. A maior novidade na prevenção da doença está no uso de rivaroxabana. No Brasil, por ora, foi aprovada para uso nas cirurgias ortopédicas de grande porte.

Segundo estudos envolvendo mais de 12,5 mil pacientes no mundo, o princípio ativo se mostrou vantajoso frente às demais opções. “É um medicamento que permite ser administrado sempre com dose fixa, sem efeito cumulativo, reduz aumento das enzimas hepáticas, não tem interação alimentar ou medicamentosa, permite um pós-operatório mais rápido e tem elevada biodisponibilidade, já que é oral, o que também aumenta a adesão ao tratamento”, explica Jadelson Andrade, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

A rivaroxabana é um anticoagulante e age especificamente sobre o fator que atua na formação dos coágulos denominados de fator Xa. Ela reduz o risco de tromboembolismo venoso total em 70% dos casos de cirurgia de artroplastia total de quadril e em 50% na de joelho. Em todos os critérios de comparação, a substância foi mais efetiva que a enoxaparina, medicamento atualmente mais usado no procedimento. E com a vantagem de poder começar a ser administrado somente depois da cirurgia, enquanto a enoxaparina não.

A terapia-padrão também faz uso da varfarina, substância lançada há 50 anos, que, apesar de apresentar uma série de limitações, ainda é amplamente usada no mundo, por sua eficiência. “A varfarina limita o paciente, que não pode comer alimentos verdes, há interações com vários medicamentos (alguns inibindo e outros potencializando seu efeito), demanda rigoroso monitoramento da coagulação, às vezes a cada três dias. E até da dosagem, pois a eficácia do medicamento num mesmo organismo varia a cada dia”, explica Ricardo Pavanello, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo.
 
AVC 

A mesma abordagem terapêutica com anticoagulantes tem sido usada na prevenção e no tratamento de AVCs causados pela fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca que atinge cerca de 1,5 milhão de pessoas no Brasil. A fibrilação atrial cria um ambiente favorável ao aparecimento de coágulos dentro do coração. Isso ocorre porque o sangue não circula como deveria e, ao ficar parado, endurece. Esses coágulos saem do coração e podem chegar ao cérebro, entupir um vaso sanguíneo e provocar um AVC. A fibrilação está presente em 33% dos pacientes com AVC maiores de 60 anos. 

Os AVCs oriundos da fibrilação atrial são mais graves e com maior possibilidade de recorrência. Quando o acidente vascular cerebral é originado por fibrilação atrial, 75% das vítimas ficam severamente dependentes de cuidados de terceiros, com probablilidade de 50% de morte dentro de um ano. E o custo do tratamento é três vezes maior. O derrame é responsável por 40% de todas as aposentadorias precoces no país. Em termos econômicos, no Brasil, calcula-se que os gastos com assistência médica na hospitalização inicial de pacientes com derrame são de aproximadamente US$ 450 milhões. 

Os sintomas da fibrilação atrial são: palpitação, falta de ar, dor no peito, fadiga, desmaio súbito e tontura. “Hoje, podemos indicar o autoexame do pulso, que pode ser feito pelo paciente e ajudá-lo a identificar uma anormalidade no ritmo cardíaco, por exemplo. Essa anormalidade pode estar relacionada à fibrilação atrial, sobretudo nos indivíduos acima de 70 anos. Já os médicos conseguem fazer o diagnóstico com exames simples, como a checagem do pulso e a auscultação cardíaca, podendo confirmá-lo por meio de um eletrocardiograma de repouso”, pondera Ricardo. Fatores genéticos, idade, pressão alta, diabetes, colesterol alto, obesidade, sedentarismo e tabagismo aumentam as chances de desenvolvimento da doença. Só o cigarro eleva os riscos em seis vezes. O custo mensal do tratamento é de R$ 180.

COMO AGE 

A coagulação necessita de uma série complexa de reações químicas e sinais do corpo. Esse processo de reações químicas é muitas vezes citado como a “cascata de coagulação”. Um dos muitos fatores de coagulação é o  Xa, necessário para produzir a trombina, que promove a formação de coágulos sanguíneos. Uma molécula de fator Xa catalisa a formação de cerca de mil moléculas de trombina por meio do que é conhecido como “explosão da trombina”. A rivaroxabana age inibindo diretamente a segmentação do fator Xa e impedindo a explosão de trombina. A seletividade ao fator Xa tem sido comprovada como clinicamente significativa.


Fonte: Correio Braziliense – Saúde

Novos anticoagulantes

ATUALIZA��O EM TROMBOEMBOLISMO VENOSO


Workshops VTE Meeting 2012, Paris

Durante o VTE Meeting 2012 foram realizados 3 workshops de forma bem dinâmica, com a participação direta dos espectadores.

Sob a tutela dos professores Kakkar e Goldhaber, tivemos a discussão sobre a garantia da implementação de profilaxia de TEV. Todos os integrantes se reuniram em grupos onde foram descritas ações que poderiam garantir a profilaxia em cada serviço. Divididos em ações na instituição, profissionais, pacientes e pós-alta. Foram detalhadas as experiências próprias de vários hospitais do mundo e percebeu-se que os desafios são os mesmos, como o envolvimento da equipe, educação continuada, convencimento dos prescritores, esclarecimento aos pacientes. Não só a equipe, mas também o paciente deve ser responsável pela execução de sua segurança.

No segundo workshop se deu sob a coordenção dos Professores J. Harenberg e R Hull.

Prof Harenberg é Professor de Medicina e Hematologia no Departamento de Clínica na Universidade de Heidelberg, Alemanha. Trabalha há 30 anos em pesquisa sobre trombose e hemostasia em pacientes clínicos. Tem várias patentes em métodos de determinação de novos anticoagulantes e publicou mais de 200 papers.


Dr Russel Hull é Professor de Medicina no Departamento de Ciências da Sáude, na Faculdade de Medicina e Diretor da Unidade de Pesquisa em Trombose da Universidade de Calgary, Alberta, Canadá. Tem mais de 900 artigos publicados e é Editor-in-chief do jornal Clinical and Applied Thrombosis and Haemostasis.




Ambos direcionaram os participantes a respostas dinâmicas sobre o assunto "Escolha da profilaxia farmacológica apropriada na prática do mundo real". A partir das perguntas feitas pelos coordenadores, os participantes puderam usar de alta tecnologia ao responder, com suas respostas sendo visualizadas ao vivo na tela de projeção. Interessante que, entre as conclusões tiradas, observou-se que não há mais espaço para o uso de heparina não fracionada na profilaxia de TEV. Pacientes clínicos devem receber a prevenção até o momento de sua mobilização, tendo a necessidade de sua continuidade mesmo no pós-alta. Fato referendados pelos guidelines sobre o assunto.

No terceiro workshop, discutiu-se sobre a adaptação do tempo e duração da profilaxia na prática do mundo real, envolvendo casos clínicos de pacientes neurológicos com mau ou bom prognóstico. Esse assunto deve ser motivo de discussão e consenso clínico de acordo com cada serviço. Há consenso de que os pacientes devem receber profilaxia no momento de sua internação e as reavalições se darão de acordo com a evolução clínica e alta hospitalar. Coordenado pelo neurologista e Professor Gregory Albers, Stanford University, diretor da Stanford Stroke Center, responsável por múltiplos clinicals trials de agentes protetores e trombolíticos pra o tratamento de pacientes com AVC.


Dra Sylvia Haas, Professora de Medicina e por 30 anos Diretora do grupo de pesquisa em trombose e hemostasia do Institute for Experimental Oncology and Therapy Research da Universidade de Munich. Seu foco científico é o desenvolvimento de novas terapias anti-coagulantes, monitorização laboratorial de anti-coagulantes, biomarcadores e trombose associada a tumores.






Fotos e participação no evento: Dr Pablo Gusman, Anestesiador 

VTE 2012

Reunidos em Paris, especialistas da América do Sul, Europa, Ásia e Oriente Médio concentraram seus estudos em um grande momento científico: Venous Thromboembolism Expert´s Meeting. O tema, "O que pode ser mudado na prática?" tentou responder questões comuns a todo o mundo. O objetivo maior foi desenvolver métodos que pudessem unificar a prevenção contra a doença tromboembólica em várias partes do mundo.

Um dos chairmen foi Professor Lord Ajay Kakkar, professor de Cirurgia da University College London com inúmeras publicações de grande importância no assunto, sendo referência no mundo para a pesquisa sobre trombose. Seus trabalhos incluem a prevenção e tratamento de trombose venosa e arterial e câncer associado a trombose. Tornou-se Lord pela Rainha da Inglaterra em 2010.










O outro Chairman foi Professor Samuel Goldhaber, da Harvard Medical School é um dos Senior Staff Members da Divisão de Medicina Cardiovascular do Brigham and Women´s Hospital. Diretor do BWH Venous Thromboembolism Research Group, também presidente e diretor fundador da North American Thrombosis Forum.




   

Venous Thromboembolism Expert´s Meeting

Neste fim de semana acontece em Paris mais um evento Venous Thromboembolism Expert´s Meeting com profissionais de vários países discutindo o que há de novo na prevenção de TEV.

Estaremos lá e vamos publicar o que há de novidades no assunto!
Para ver a imagem com a programação em maior tamanho, clique nela.